quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Os pequenos heróis

Porthos, me protegendo da... ahn... internet?
Muitíssima boa noite, amigos que acompanham o Mochila do Mestre! \o/

Hoje quero falar sobre um dos RPGs mais originais que eu já vi na minha vida como jogadora e interessada em coisas diferentes que sou (ok, ok... não vi centenas de milhares de RPG por aí, mas...). Ele é, em muitos aspectos, bem simples. Em todos os outros, ele pode ser tão complexo que pode dar um nó na cabeça do mestre e dos jogadores.

Antes de entregar o jogo, vou falar um pouco sobre o autor dele, e talvez alguns já entendam aonde quero chegar...

Estou me referindo à John Wick.
Ele é autor e co-autor de tanta coisa que sou incapaz de lembrar de tudo. No mais, temos Legends of The Five Rings, Orkworld, 7th Sea, Shotgun Diaries, além de já ter ganho vários prêmios pelos jogos que ele criou ou ajudou a criar. A pré-venda de um de seus jogos se esgotou em poucos minutos, e depois o estoque de uma webstore desse mesmo jogo esgotou em 4 dias. As grandes características de seus trabalhos são a simplicidade e a especificidade. A grande impressão que eu tenho, às vezes, é que ele seria capaz de fazer um pequeno RPG sobre absolutamente qualquer coisa que ele desejasse. Kinda creepy, mas ainda assim, incrivelmente criativo.

Então, muito embora 7th Sea tenha um lugar reservado no meu coração pra sempre, o trabalho que eu mais gosto de John Wick (até ele me surpreender denovo) é um pequeno RPG chamado “Cat”.


O Sonho

Porthos (ou Popó, meu gato :3), me contou que desde que o mundo é mundo, e o Universo existe, uma criatura de cada espécie é chamada ao reino dos sonhos para representar todo sua espécie num teste, a cada mil anos. Aos vencedores cabe a responsabilidade de zelar pelo último colocado.
E, no reino dos sonhos, não ter um pêlo que te proteja do frio, garras e dentes para lutar, ou então visão e audição aguçados fazem toda a diferença no teste. Infelizmente nós, seres humanos, somos tão preparados para esse teste quanto bebês. No último teste, os vencedores foram os gatos; o Rei dos Gatos venceu a Rainha dos Cães, e como o segundo colocado é o primeiro dos perdedores, a rivalidade inevitável entre as espécies nasceu.

O Sonho é o mundo real (de verdade) e justamente por não conseguir prestar atenção ao que é realmente importante, nos saímos tão mal lá, e nos lembramos de tão pouco de nossa estada.

Mas, de quê exatamente precisamos ser protegidos?

Existem muitos nomes para essas criaturas, mas o mais inofensivo deles é Boggin, ou Boogeymen. Os boggins são maus, realmente maus. Eles usam seus pequenos ganchos e membros para se prender à nossas almas e bebem delas. A pior parte de tudo é que não sentimos nada. Não vemos nada. Temos milhares de explicações para essas coisas, mas ainda somos incapazes de enxergar a verdade. Acordamos mal um belo dia, chamamos um médico, tomamos comprimidos, e achamos que vamos melhorar com isso.
Os Boggins sugam os nossos Sonhos. Porthos disse que ele vê Boggins grudados nas pessoas andando na rua o tempo todo; pessoas que parecem andar por aí como se não tivessem um amanhã.

Mas, e as pessoas que têm gatos em casa?
Essas sim estão seguras. Os gatos sabem como matá-los. Matá-los bem mortos.
Existem vários tipos de Boggins, e um bom gato sabe como cuidar de cada um deles. É um trabalho muito perigoso, e sempre existem muitos Boggins por aí... mesmo o mais habilidoso guerreiro pode cair em combate. Mas, claro, eles dispõe de nove vidas para fazer seu nobre trabalho, já que eles são os grandes vencedores do teste.

CAT: The Little Game about Little Heroes




Wick conseguiu reunir no livro, de uma maneira muito peculiar e real, todas as características de nossos amigos peludos e independentes. Ler o livro, por si só, já te impressiona com a simples genialidade das coisas, especialmente dos truques e magias. O DDR (Dinner Dance Ritual) consiste em andar na frente de um humano, mentalizando alguma ordem simples que dê conta de uma necessidade do gato (como comida ou abrigo). Já a Dream Bite, que consiste em morder de leve um humano para marcar seu cheiro nele, garante que você pode encontrá-lo facilmente no Sonho (já que ele vai ficar todo perdido por lá). Ficou trancado fora de casa? Tudo bem. O Doorslip existe para que você atravesse a porta de casa, desde que deixe para trás um pequeno sacrifício (como um passarinho, ou camundongo).

Leu isso e pensou no seu gatinho?
Então meus amigos, John Wick conseguiu o que ele queria.

No jogo, os gatos possuem 6 traits: garras, pêlo, rosto, presas, pernas e cauda. Esses traços determinam suas habilidade em escalada, brigas, pulos, percepção e até mesmo magia. Sim, magia! Os gatos podem realizar pequenos feitiços que eles mesmos chamam de Cat Tricks (que são coisas mais bobinhas, como te convencer a alimentá-lo andando na sua frente e se esfregando na sua perna), até magia mais complicada, ligada diretamente à sua alma felina, como cair de grandes alturas sobre as quatro patas.
Alguns cães, criados entre gatos, também podem atuar como protetores contra os Boggins, mas esses são casos raros.

Da mesma forma, um gato muito maltratado pelos humanos pode ser um inimigo mais cruel e implacável que qualquer Boggin jamais seria. Gatos são como pessoas... eles também já podem nascer com um gosto pela maldade. Mas, os seres humanos se mostram experts no assunto quanto se trata dos amigos felinos, e gatinhos traumatizados podem apresentar uma séria inclinação à ferrar com quem eles deveriam proteger. Pense em pequenos filhotes dentro de uma caixa de papelão, abandonados e sozinhos, esperando por uma boa alma que possa adotá-los, com suas cabecinhas peludas queimando no sol de Janeiro. Ou então, a pobre gata, separada de seus filhotinhos que acabaram de nascer, simplesmente porque seus “donos” não querem mais nenhuma boca na casa para alimentar. Às vezes os humanos simplesmente merecem uma dose da dor que eles causaram.

A maior dificuldade para os Mestres que decidirem aventurar sua mesa através dos Sonhos de CAT provavelmente vai ser trabalhar com O Sonho. Afinal, trata-se de um mundo sem barreiras, regido apenas pelos sentimentos, experiências e situações. Eu sugiro uma boa busca de referências visuais em HQs (como Sandman, Fables, Fairy Tales ou mesmo Madoka Magica) para ter uma idéia de como trabalhar isso. Por exemplo, você é gato de um notório desenhista de quadrinhos; os sonhos dele, nos dias bons, são claros e limpos, com traços firmes e delicados de um bico de pena, as cores são vivas e quentes, mas te incomoda um pouco sentir-se em apenas duas dimensões. Por outro lado, nos dias ruins, o céu pode estar negro como naquim, os traços distorcidos, e todo resto pode parecer papel rasgado ou amassado. As possibilidades aqui são infinitas!

A mecânica de rolagem de dados também pode estranhar, à primeira vista.
Os seis traits do gato são divididos em: Um Best trait, três Strong traits e dois Good traits, cujos valores correspondentes são 5, 4 e 3. Os testes aqui são chamados de Riscos. Para passar por um teste, o jogador rola o número de d6 correspondente ao valor do trait que será usado no teste. Então ele precisa de um determinado número de resultados pares para conseguir o que ele quer: um número par para um risco fácil, dois para um risco moderado, e três para um grande risco. Se um gato falha num teste que era considerado perigoso, ele pode sair com uma cicatriz desse ocorrido; a cicatriz deve ser marcada num trait à escolha do jogador, e ele tem que explicar para o mestre o porquê desse trait; assim, o valor dele é reduzido de acordo com o número de cicatrizes. A vida do gato está em risco quando três de seus traits estiverem com os valores reduzidos.
Também existe a reputação do gato, que pode dar uma ajudinha. Um gato pode ter cinco reputações (Matador de Boggins, Caçador de Ratos, etc...) cujos valores podem chegar até cinco. Se a situação for apropriada, ele pode jogar o número de d6 correspondentes ao valor da reputação para ajudar num teste. As noves vidas do gato também podem ajudar; gastando uma vida, um gato pode ter sucesso num teste que ele não teria como, em outras circunstâncias, ou então pode negar as cicatrizes que ele receberia numa jogada mal sucedida.

Realmente, é impossível não se apaixonar por esses pequenos heróis!
Recomendo para todas as idades e amantes de gatos!! :3
(O Porthos também recomenda! X3)

Recentemente, CAT foi revisado e ganhou espaço no Big Book of Little Games, que Wick está lançando, e em seu site é dito que ele também está cheio de novidades.

Para conferir, acesse:
http://johnwickpresents.com/

CAT: Little Game About Little Heroes – Ficha técnica
Autor: John Wick

Chuck Noris Aproves!

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